Tudo que criamos passa a existir

Antônio Carlos de Carvalho



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Chamei o Antônio Carlos para escrever esse texto porque ele foi o meu professor de geografia no colegial. Me lembro de uma proposta dada por ele que chamava “continente imaginário”, onde tínhamos que inventar um continente, dar um nome, posicionar ele no mapa-múndi e a partir da sua forma e sua localização, desenvolver ao longo do ano qual seria o clima, as comidas, a cultura, as vestimentas daquele lugar. Já faz mais de quinze anos e eu continuo refazendo o mesmo trabalho. Chama-lo de volta aqui é uma forma de agradecer por ter me ensinado a imaginar a criar um mundo meu.





Para quê serve um mapa de lugar nenhum?

Jorge Luis Borges, em seu conto “Do rigor da ciência”, nos fala de um povo que, de tão versado nas técnicas cartográficas, resolveu fazer o mapa mais perfeito que o gênio humano poderia criar. Depois de muitos projetos audaciosos, eles atingiram seu objetivo: um mapa tão próximo do real que suas dimensões eram as mesmas do próprio império. A perfeição tornou-o completamente desnecessário e ele foi descartado.

Essa história nos faz pensar nesses tempos em que vivemos, quando mapas tomaram conta dos nossos caminhos. Somos orientados sobre aonde devemos ir e o que vamos encontrar no trajeto. Chegam até a nos informar a hora e minutos em que chegaremos.

Então para quê fazer mapas de lugares imaginários, sem exatidão e que nos levam a lugar nenhum?

Diria que para libertar-nos dos rigores da vida contemporânea, que se impõem com suas certezas de tempo e espaço, tentando transformar a vida em algum algoritmo.

A vida é imprecisa e a arte se faz necessária para traçarmos nossos caminhos.